“o choro pode persistir uma noite, mas a alegria irrompe a manhã”. (Salmos 30.5b)
vez ou outra há em mim um choro seco
sem lágrima, não alardoso
fico deserta como quem sofre de ausência
nas sombras vejo o grito abafado
e a fraqueza virtuosa (...)
Quando pensamos nas promessas de Deus, costumamos pensar em perdão, misericórdia e vida eterna. Mas Jesus nos prometeu algo mais: “No mundo tereis sofrimento (aflição).” ( João 16:33 ).
Tão seguros quanto a morte, os impostos e o amor de Deus pelos pecadores, nós sofreremos - e em alguns momentos, não estará nada bem - Jesus garante isso.
Para muitas pessoas, Deus e o sofrimento não são compatíveis.
Se Deus existe, eles raciocinam, então não deveria haver sofrimento, pois como um Deus bondoso e amoroso poderia permitir isso?
Mas o verdadeiro Deus não é estranho à dor..
Na música “O bêbado e a equilibrista”, podemos observar uma crítica social do contexto da década de 70. A canção apresenta um protesto pela volta dos ditos “intelectuais” que foram exilados e perseguidos em virtude do posicionamento contrário à ditadura militar.
Ao longo da ditadura, os militares foram em sua maior parte, “peões” inquestionáveis de governantes ambiciosos e egoístas e executores obedientes dos comandos de seus superiores. Eles eram assassinos contratados que matavam porque alguém mandou e seu condicionamento cultural tornou “óbvio” que era uma coisa boa e nobre a se fazer.
Da mesma forma que os “revolucionários violentos” que, em nome da sua causa revolucionária, também tomam a liberdade para matar.
O Salmo 126 é uma canção comunitária de confiança que emprega metáforas para proclamar Deus como aquele que traz alegria na tristeza, risos nas lágrimas e o bem no mal.
Os versículos iniciais do texto apresentam uma época maravilhosa e alegre “quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho”.
Segundo diversos estudiosos e teólogos, podemos relacionar esse relato com o retorno milagroso dos judeus que estavam exilados na Babilônia. Esse fato histórico aconteceu quando o rei da Pérsia (Ciro) derrotou a Babilônia e libertou os exilados para que eles pudessem retornar a Jerusalém.
No ínicio de Novembro fomos surpreendidos pela morte precoce de Marília Mendonça, uma das cantoras mais populares e promissoras do Brasil. Marília Mendonça trouxe o termo “feminejo” para o cenário de um estilo musical ainda tão masculino.
Entre as letras de suas músicas sobre superação de relacionamentos abusivos e autoestima feminina, pensei no quanto as mulheres permanecem à margem de nossas comunidades, ainda que sejam maioria no mundo.
Presenciamos esse cenário de marginalização desde os primórdios, como em algumas narrativas bíblicas que apresentam mulheres sendo julgadas.
A pessoa generosa revela uma vida de compaixão amorosa, uma vida apaixonada vivida com sentimentos de entrega.
Essa pessoa é genuína, atenciosa, aberta e totalmente receptiva. Quando abordada por alguém necessitado, sua atitude reflete o afeto e a alegria encontrada em ajudar os outros.
Seu corpo sinaliza gentileza e paciência, perseverança e competência. Sua empatia estabelece uma profundidade e qualidade de relacionamento para qualquer felicidade ou tristeza que possa ser sentida pelo outro. Eles estão totalmente sintonizados com as esperanças e necessidades dessa pessoa. Não há condenação, nem crítica, nem conselhos - apenas a ajuda é oferecida.
Reconhecemos que nossa sociedade está repleta de numerosos grupos e comunidades que enfrentam a opressão sistêmica, e devemos agir. Devemos estar dispostos a admitir e a abordar as realidades complexas do nosso mundo e evitar a “preguiça espiritual”, que nos tenta a confiar em desculpas e soluções genéricas.
Infelizmente muitos evangélicos prestam um péssimo serviço à mensagem do evangelho de Jesus de Nazaré, simplesmente removendo o contexto cultural do ministério de Jesus, diluindo sua mensagem.
O amor pelos outros capacitou Jesus e seus seguidores a superar as injustiças sociais de seus dias. Jesus não estava apenas pregando uma mensagem universal de salvação para o mundo, mas também abordando questões políticas, sociais e raciais específicas. Ele estava ajudando aqueles que estavam sendo abusados, violados e oprimidos. Jesus abordou radicalmente os diversos e complicados conflitos da época.
As igrejas evangélicas brasileiras estão cheias de pessoas que não foram convidadas a se tornarem discípulos. Ser cristão passou a significar ir à igreja e ser salvo quando morrer. O ministério da igreja é dedicado a “salvar o pecador” e resolver problemas (conjugais, dor e sofrimento), mas não é dedicado ao discipulado..
No Novo Testamento, discipulado significa ser um aprendiz de Jesus de Nazaré em nossa existência diária. Um discípulo é simplesmente alguém que decidiu estar com outra pessoa, em condições apropriadas, para aprender a fazer o que essa pessoa faz ou para se tornar o que essa pessoa é.
A música “Resposta”, composição de Nando Reis, é um verdadeiro clássico da MPB nacional. Sua construção surgiu após o término de um relacionamento amoroso do autor com Marisa Monte, pois ele aguardava ansiosamente a resposta dos versos que havia construído, pedindo perdão pelos erros cometidos... porém não obteve a “resposta” de sua amada.
Quer dizer… não obteve uma resposta formal, porque o “silêncio” também é uma resposta.
No chão da vida, constantemente me encontro na mesma situação que Nando Reis viveu na década de 90, onde aguardava uma resposta de suas indagações, mas infelizmente tal resposta não se apresentava de forma clara e objetiva. Essas perguntas “irrespondíveis” insistem em dominar os nossos pensamentos e precisamos lidar com a incerteza.
A comunidade judaica assume a responsabilidade de doar com muito orgulho. O conceito conhecido como tsedacá encontra suas origens na Torá. Essa palavra hebraica significa literalmente justiça, mas normalmente alguns estudiosos e teólogos utilizam esse termo para se referir a doações e caridade.
Partilhar é mais do que apenas um princípio financeiro de generosidade. Surpreendentemente, em Sua sabedoria e bondade para conosco, o Eterno nos permite usar nossa própria medida de generosidade para com os outros. Ao fazer isso, Ele fornece uma oportunidade para reajustarmos nossos padrões.
O Evangelho da vida, proclamado no início quando o homem foi criado à imagem de Deus para um destino de vida plena e perfeita é contraposto pela dolorosa experiência da morte que entra no mundo e lança sua sombra pela falta de sentido sobre toda a existência do homem.
No relato do assassinato de Abel, a Escritura revela a presença da raiva e da inveja no homem, consequências do pecado original (que está presente desde o início da história humana). O homem se tornou o inimigo de seu semelhante. Todo assassinato é uma violação do parentesco "espiritual" que une a humanidade em uma grande família, na qual todos compartilham o mesmo bem fundamental: a igualdade e a dignidade pessoal.
Quando olhamos para a espiritualidade cristã descrita nas primeiras páginas de Atos vemos uma fé enfaticamente relacional. A reunião no templo para aqueles primeiros cristãos era um complemento da fé relacional que vivam no dia a dia, e não o centro da prática espiritual como nos acostumamos a viver na atualidade. A esse respeito bem pontuou Warren Wiersbe “A fé cristã era uma realidade diária, não uma rotina semanal”.
Na atualidade, o templo (estrutura física) tornou-se para muitos cristãos o único local onde eles professam a fé. O culto dominical é visto como algo ultrassagrado, mas a semana (segunda a sexta-feira) é dessacralizada e vista como um fardo de dias em que precisamos trabalhar, para só então, no domingo, nos reunir como igreja e vivermos a “fé”.
Você já parou para pensar quantos homens e mulheres foram usados por Deus no desenrolar da história da humanidade e nem sequer foram citados nas notas de rodapé de um livro? Por exemplo, há uma gama de pregadores anônimos para além de Lutero que auxiliaram na divulgação dos ideais da Reforma Protestante, mas geralmente o único nome citado é o do Martinho.
Em Atos, também temos um pequeno vislumbre de quem foi Ananias, quando este tem a rápida honra de ser mencionado por uma única vez. Ele é alguém secundário na narrativa, um personagem que aparece apenas para orar por Saulo e depois desaparece na história. Pergunto-me: será que ele não fez nada mais que merecesse ser contado?
Essa pergunta que já permeou a mente de grandes filósofos e pensadores ao longo do tempo encontra sua máxima expressão no texto de Filipenses, capítulo 2, onde encontramos não uma resposta conceitual e hipotética, mas uma resposta que tem rosto, sentimento e ação: Jesus.
No processo conhecido teologicamente como kenosis (esvaziamento), Cristo por meio de ações em um estilo de vida que em tudo glorifica a Deus Pai, revela o que de fato é ser um homem segundo a vontade de Deus.
De manhã
quando acordei vi o tempo parado,
a fim do mundo anunciado,
a suspensão do relógio, a marcação cerrada;
a alma imersa em angústia
e lágrima.
No meio do dia
imóvel como pedra em ilha deserta,
estava eu ― alheia ―
fugitiva e pecadora confessa,
consciente do destino que a mim cabe,
antes da graça derramada.
O mundo contemporâneo é permeado por um ritmo intensamente acelerado, trânsito constante até chegar ao trabalho, rotinas estressantes, polarização política, multifacetadas bolhas sociais, contexto que potencializa cada vez mais um sentimento de ira generalizada. As pessoas parecem estar sempre no estágio do “entre guerras” (período de hostilidade que marcou o término da Primeira Guerra Mundial até o início da Segunda Guerra). Prontos para explodir bombas de agressões a qualquer momento, nós nos tornamos dinamites cujo cordão com pólvora já foi aceso e estamos há um estopim de explosão emocional.
Embora existam muitas características semelhantes às de Cristo nas quais poderíamos nos concentrar, a oferta sacrificial e generosa é uma das mais importantes.
A partir das palavras doces de Jesus de Nazaré, observamos que através da generosidade e dos atos de amor, tornamos Deus presente. Por exemplo, em um desses episódios Jesus utiliza dois símbolos para explicar o que significa revelar Deus em ação: ele lava os pés de seus discípulos e lhes ensina o mandamento: “Como eu vos amei, vão e façam o mesmo”.
O amor é o sinal mais seguro da ação de Deus. Todo aquele que ama é gerado por Deus e conhece a Deus. Quem está sem amor não conhece a Deus, porque Deus é amor.
Cruzadas modernas acontecem toda vez que alguém em nome de “deus” pensa estar fazendo o correto - segundo uma visão fundamentalista e extremista - quando na verdade dissemina ódio e tira o direito de vida/liberdade do outro que não se enquadra nos padrões ditatoriais.
O “outro” dentro do fundamentalismo não é visto como um indivíduo, mas como uma barreira que precisa ser derrubada para que só exista o eu, ou clones do “eu”. Os fundamentalistas, independentemente da linha religiosa que seguem, continuam a viver na “Era das Trevas”, suas ações são regressos para um tempo sombrio da história, onde pensar diferente era um pecado punido com pena de morte.
O abraço faz parte da vida humana desde o nascimento, pois quando ainda bebê, a criança é abraçada no colo protetor e acolhedor dos pais ou repousa sobre o seio da mãe - até então, este é o único mundo conhecido daquele que acaba de vir ao mundo. É por meio desse abraço que a criança se sente segura e aquieta o choro, podendo respirar o ar da vida. O abraço, provavelmente, estará presente na primeira queda, quando alguém vem abraçar a criança que está aprendendo a caminhar; e também na despedida do idoso, que já não tem mais forças para caminhar por conta própria.
O abraço é a conexão do coração. Lembro-me de ver uma obra em um museu denominada “Anatomia de um abraço”, de Luna Lu, na qual, por meio de um abraço, é perceptível o encontro de dois corações.
A salvação gera a comunhão,
o dar as mãos, o lavar os pés,
o repartir do pão (...)
Em tempos em que muitos querem ser deuses de si mesmos, olhar para a vida e postura de João Batista nos ajuda a lembrar quem somos e também quem não somos. Certa feita, admirados da espiritualidade que vivia João no chão da vida próximo às margens do Rio Jordão, alguns lhe perguntavam: “És tu o Messias que haveria de vir? Por acaso você é o Elias aguardado? Você é o Cristo?” A todas essas perguntas o homem que preferiu a vida reveladora de humildade e submissão, responde enfaticamente: “Eu não sou o Cristo!” (João 1.19).
Uau! isso é revelador do caráter de quem sabe sua real identidade, que não se ilude com os aplausos, que mantém a face coberta de si mesmo para que somente a imagem de Deus seja revelada. Nossa geração de popstars gospels, de apóstolos televisionados, de gente que se diz “acima da média”, de mercenários da fé e de amantes de si mesmos, tem muito a aprender com João Batista - o homem que se declara apenas homem e não deus (...)
É curioso quando começamos a ler a Bíblia e traduzimos suas histórias como contos de fadas. Se você começou a frequentar a igreja na sua infância, pode perceber como somos constantemente tentados a olhar para a narrativa bíblica como harmônica, angelical e sobre-humana. Afinal, as histórias para as crianças passam, e devem passar, por uma “peneira”, mas o quanto perdemos com isso de uma construção teológica de Deus trabalhando em relações humanas reais, que são complexas, absurdas e provocativas.
Nas minhas memórias me lembro da narrativa Davi, Bate-Seba e Urias (2 Samuel 11:1-27). Lembro-me de ter contato com esta história na pré-adolescência, em minha igreja. Pare um pouco, se conseguir leia a história e faça uma imagem de cada personagem. Como você visualiza cada personagem? Que rosto ou personalidade você imagina de cada um?
Querer viver fora de Deus é um desmanchar-se,
desintegrar-se, deixar de ser.
Tomar consciência dessa não existência
é ser resgatado, reintegrado, é renascer.
E quando Deus tira o humano do meio do nada
e nele faz a sua morada,
o ensina a pertencer.
A salvação gera a comunhão,
o dar as mãos, o lavar os pés,
o repartir do pão (...)
Quando criança eu pedia tanto – mais tanto – para jogar videogame que chegava um momento que meu irmão mais velho me dava um segundo controle (detalhe um controle desconectado), totalmente iludido pensava eu estar fazendo todos aqueles incríveis movimentos com os personagens, quando na verdade eu vivenciava uma evidente demonstração da falsa sensação do “Eu estou no controle”(...)
Certa vez ouvi a história de um idoso muito simpático que, emocionado, descreveu-me a sensação de ser amado quando nada tinha a retribuir. No estágio da sua vida onde suas forças, progressivamente, esvaíram-se de modo que já não podia mais se locomover sozinho, o idoso contou que passava o dia inteiro deitado dependendo totalmente de seus filhos para as suas necessidades básicas.
São Paulo se desenvolveu e ganhou notoriedade nacional com o advento da economia cafeeira, nos trilhos que se erguiam e no famoso cafezinho, que nos dá aquele vigor a cada manhã e que ainda hoje funciona como uma terapia em meio àquele alvoroço todo da rotina de escritório. O cafezinho, que é famoso por nos manter “ligados” , “ativos” e em constante ação, por coincidência ou não, também teve papel importantíssimo em mobilizar e girar o motor propulsor da cidade que viria a ser conhecida como a “cidade que não para”.
Nosso mundo passa por ciclos soberanos de relativa prosperidade e profundas crises - algumas piores do que outras.
Coisas que entram em nossas vidas sem avisar (como a atual pandemia) e com potencial de causar danos a nós mesmos, a nossos entes queridos e a outros ao nosso redor.
Mas, como seguidores de Jesus Cristo de Nazaré, que disse claramente aos seus discípulos: “Neste mundo, vocês terão tribulação”, nós somos as últimas pessoas que deveriam se surpreender quando enfrentamos o caos.
Embora saibamos que o autocuidado é importante, poucas pessoas falam sobre as consequências de não priorizar a saúde mental. Em nossa cultura, o estresse é considerado um subproduto normal da multitarefa e as pessoas são recompensadas por passar longas horas trabalhando.
O autocuidado começa com a consciência de nossas próprias necessidades e do quanto podemos entregar. Reconhecer e compreender as emoções que sentimos é importante para descobrir nossas reais necessidades.
Se deixarmos de cuidar de nós mesmos, como podemos ter alguma coisa para compartilhar e/ou entregar ao próximo?
Espiritualidade é o corpo despido,
nu, sem nenhuma camada,
tocado pelo vento, pele arrepiada,
pés descalços, liberdade.
Coração pulsando, sensibilidade.
Olhos se olhando, tentando entender,
pensando a eternidade, o mundo, o próprio ser.
![Fé Que [Não] Move Montanhas: O Dilema Da Fé Na Contemporaneidade.](images/Fe-que-nao-move-montanhas_chamada.jpg)
O elemento “fé” é apresentado nos evangelhos sinóticos como o meio para presenciar e vivenciar a glória de Deus, que é revelada através de Jesus a todos aqueles que creem; e mais do que isso, é o pré-requisito para ser incorporado ao corpo de Cristo. Sem fé é impossível ser parte com Cristo da morte ou da ressurreição e, consequentemente, da adoção como filho. Pertencer ao Reino de Deus, conforme apresentado nos evangelhos sinóticos, é confessar Jesus como o Messias prometido e filho unigênito de Deus.
A espiritualidade cristã não se define,
não se prende, é como o vento.
É a experiência do assombro,
do alumbramento.
É se perceber pequena parte de uma imensidão.
É transcender com os pés tocando o chão.
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