Notícias da Idade Média: Afeganistão e os fundamentalistas religiosos do nosso tempo

Por Joel Marc

Notícias da Idade Média: Afeganistão e os fundamentalistas religiosos do nosso tempo

Cruzadas modernas acontecem toda vez que alguém em nome de “deus” pensa estar fazendo o correto - segundo uma visão fundamentalista e extremista - quando na verdade dissemina ódio e tira o direito de vida/liberdade do outro que não se enquadra nos padrões ditatoriais.

O “outro” dentro do fundamentalismo não é visto como um indivíduo, mas como uma barreira que precisa ser derrubada para que só exista o eu, ou clones do “eu”. Os fundamentalistas, independentemente da linha religiosa que seguem, continuam a viver na “Era das Trevas”, suas ações são regressos para um tempo sombrio da história, onde pensar diferente era um pecado punido com pena de morte.

O fanatismo religioso mata mais que uma bomba atômica! Simbolicamente é como se novamente na história da humanidade os fundamentalistas estivessem com pedras nas mãos - prontos para matar mulheres, crianças, jovens, estrangeiros - e ouvimos Jesus, em amor, atualmente a lhes dizer: “Porque vocês atiram pedras, se vocês também são pecadores?” [ Parafraseando a cena da mulher pega em adultério / João 8]

Os fundamentalistas não usam a lei para prevenir catástrofes sociais, mas para saciar a sua sede de serem ceifeiros do seu tempo, eles sentam na cadeira de juízes e julgam sem misericórdia e sem reta justiça. A hipocrisia sempre mora no coração do legalista, sim basta você reparar: para todo legalista o erro do outro é passível de punição de morte, mas o seu próprio erro é encoberto por uma falsa moralidade.

Se a espiritualidade emocionalmente saudável, equilibrada e sadia tocam positivamente toda a dimensão da vida, influenciando positivamente a maneira como tratamos as mulheres na sociedade, como a acolhemos os estrangeiros e órfãos, propiciando uma amabilidade genuína para com crianças, permeando a construção de leis mais justas e garantindo a prática dos direitos humanos, infelizmente o contrário também tem  efeitos gigantescos na sociedade, ou seja, uma espiritualidade fundamentalista-fanática-insensível-extremista  prejudica todos os aspectos da vida humana.

No fundamentalismo religioso mulheres não são tratadas como portadoras da Imagem de Deus, pelo contrário são animalizadas, crianças são vistas como minis homens-bombas (depósitos de ódio, abastecidos para que possam ser explosivos ambulantes no futuro), estrangeiros são vistos como escravos - não há lugar para as diferenças -  não existe pluralidade criativa, tudo é acinzentado pelo ódio que usa um livro como preceito para tirar  vidas, rasgar os direitos humanos e propagar caos e  medo.

É inimaginável o quanto a visão que nutrimos e construímos sobre “deus”  influencia nossa conduta em sociedade. Você certamente conhece alguém que carrega uma visão tão tirana sobre quem Deus é que inevitavelmente construiu na sua própria vida um estilo que reflete essa imagem que ele nutre de deus, ou seja, se tornou um tirano encarnado. Se você carrega a imagem de um deus que o tempo todo está sentado em um trono observando a humanidade esperando alguém errar para mandar um trovão e destruir aquela mísera criatura, você certamente também assumirá essa postura na sociedade - de justiceiro, de inflexível, de “matador”.

Olhar para o noticiário nas últimas semanas é ver notícias medievais sendo publicadas hoje em dia, é ouvir novamente alguém dizer “ religiosos matam em nome de deus”. É por isso dentre tantos outros motivos que mantenho os olhos em Jesus - a face visível do Deus invisível - Ele ( e só ele ) revela plenamente o Pai e torna Deus genuinamente conhecido. Nesse desvelar do véu da face de Deus vemos e conhecemos um Deus amoroso, perdoador, que dignifica as mulheres, que trata bem os estrangeiros, que chama as crianças para perto, que ouve o clamor do pobre, que abraça e cura os enfermos, que liberta os prisioneiros de alma - JESUS é a cura para todo fundamentalista! Porque Jesus é amor, é vida!

Não precisamos mais criar nossas ideias de quem Deus é não precisamos mais manter a imagem de um deus tirano, precisamos conhecer Jesus e ser transformados pelo seu amor.

Sei que quando me coloco em oposição a todo tipo de fundamentalista pareço ser um a - religioso, mas não, o que eu sou de fato é alguém que reconhece que a espiritualidade é essencial no chão da vida e  por influencia todas as dimensões de nossa existência precisa ser equilibrada, saudável, amorosa e verdadeira.

Não sou contra a religião, sou contra a religiosidade fria e desumana, sou contra o fanatismo, sou contra a morte, porque o Deus que eu conheço em Cristo é a favor da vida! A cruz é literalmente Deus dizendo por meio de Jesus: - Chega de morte!

Oremos pelo Afeganistão, e também oremos por todos os fundamentalistas religiosos presentes camufladamente em  nosso Brasil, muitas vezes, portanto ternos, gravatas, livros religiosos e preceitos de justiça, mas um coração vazio e frio. Que eles conheçam a Jesus e sejam transformados pelo seu amor.

 “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.“ (1 João 4.8)

  • Joel Marc

    Graduado em História pela Faculdade Sumaré e bacharel em Teologia pela FLAM (Faculdade Latino Americana). Possui Extensão Universitária em História Judáica pela PUC-SP. Após atuar durante cinco anos como livreiro e mergulhar no universo dos livros cristãos, ingressou em 2019 como professor na Escola Pública do Estado de São Paulo. Atualmente é professor das disciplinas de História e Filosofia no colégio cristão Kairós e produtor de conteúdos terceirizados para plataformas de banco de questões modelo Enade, na área de tecnologia.