Ambições transformadas

Por Joel Marc

Na espiritualidade acumulativa é difícil viver o "pão nosso de cada dia", o “basta cada dia o seu próprio mal” ( Mateus 6.34) , porque a nossa mentalidade permeada pelo sistema acumulativo - que visa sempre o lucro- e deseja estar no controle a todo momento - gosta de ter no hoje mais do que necessário para o hoje e também para o amanhã, assim ilusoriamente temos a falsa sensação de que o amanhã não nos assusta mais, porque na nossa modernidade líquida demos um jeitinho brasileiro de tentar guardar o "maná" para o dia seguinte, disfarçando o cheiro de estragado com nossos temperos de ganância.

E se tivéssemos que viver com a porção exata de cada dia? E se ouvissemos hoje do Senhor: "leve apenas uma túnica" ( Lc 10: 9-10.). E se descobrirmos que no Reino de Deus "menos é mais" - onde ficariam nossos acúmulos de anos? E se ao invés do jovem rico que teve um encontro com Jesus nos Evangelhos, fosse nós que tivéssemos que ouvir hoje: "Falta-te uma coisa, vai e vende tudo o que tens e dê aos pobres" ( Lc. 19:21) .... Onde então depositaríamos os nossos lucros? No Reino de Deus ou no reino dos homens.

A espiritualidade de metrópole - está sempre pronta para manter-se rica à custa de suas colônias, em detrimento do cansaço e escravidão física-emocional do seu semelhante - nesse estilo de vida onde não há espaço para "O Senhor é a minha porção diária", pois todo espaço que há, é ocupado pela desigualdade social, a meritocracia, o ter em detrimento do ser, o egoísmo e relações sociais exploradoras. Para esses a voz do Senhor diz: " Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? ( Lucas 12:20).

É paradoxal pensar que o Dono de tudo, quando humano se fez, assumiu a postura em sociedade de alguém que "não tem nem onde reclinar a cabeça” (Mateus 8.20) - se fez um sem teto - preferiu não possuir os ilusórios reinos oferecido no deserto, preferiu um par de sandálias simples para caminhar pelas ruas secas e empoeiradas da Galiléia do que um cavalo branco de glórias passageiras em um mundo de ganância e desamor.

E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás. (Lucas 4.5-8).

É triste pensar que o que Jesus tão veementemente recusou no deserto, hoje nós iludidos pela cosmovisão do “American Dream” vivemos em detrimento de alcançar. Trocamos a eternidade pelo prato de lentilha moderno, vendemos nossa alma pelo sucesso transitório e, adoramos a criatura ao invés do Criador.

Olhe para a vida de Jesus e veja o que ele acumulou se não gente com coração quebrantado? Seguidores humildes. Olhe para mesa do seu banquete, não vemos manjares da babilônia, vêmos o simples pão e vinho que muda tudo! Muda o eu, muda minhas vaidades, muda meus interesses, muda minhas relações e a forma como trato o meu semelhante, transforma-me de alguém que outrora corria atrás do vento para um filho de Deus que repousa nas palavras do Aba Pai: "A minha graça te basta".

Aceite hoje o convite do mestre para uma vida mais simples, menos acumuladora, mais partilhadora, menos egoísta, mais empática, menos "eu" e mais "nós". O Reino Deus altera todas as estruturas do nosso ser e nos faz viver uma nova vida, onde até mesmo nossas ambições são transformadas.