Espiritualidade que ouve o seu tempo.
Por Joel Marc
Créditos da imagem: FreepikUm erro muito presente na Igreja contemporânea, no que diz respeito a sua forma de viver o saber teológico, é que ela tende a dar respostas a questões que ninguém mais está fazendo, além de não ouvir as perguntas que o seu entorno grita em busca de respostas. É preciso ter em mente que uma espiritualidade não contextualizada resulta diretamente na forma como a igreja se relaciona entre si (corpo) e entre a comunidade local em que está inserida.
Frente aos desafios do saber teológico contemporâneo precisamos pensar não só nossa ortodoxia, mas também nossa ortopraxia sem abandonar a ortopatia, tendo sensibilidade de perceber os novos sujeitos do fazer teológico, enxergando-os nos novos lugares do saber teológico. A convocação para ouvir o clamor do órfão, da viúva, do estrangeiro e do pobre - nos novos nomes que recebem hoje – como de “menino da favela“, ou “estrangeiro social” que embora tendo nascido na terra, por questões de exclusão e não pertencimento social se viu “filho bastardo da nação”, e rejeitado pela “Pátria Amada”; como também da mulher que luta para ser vista na Teologia com olhar do Deus-Amor e não com o olhar do Homem-Opressor; da Negra que busca a sensibilidade de um saber teológico esclarecido, que entende que “Negro“ não é sinônimo de mal, e que a “coisa tá preta” não deve ser jargão de pregador para se referir a uma situação ruim.
Os desafios de se pensar, fazer e viver uma espiritualidade que ouça e se faça ouvir com relevância na contemporaneidade, se dá no chão da vida dos joelhos que se dobram e encontram - no nosso caso- o chão da América Latina, que com sangue regado a terra dia após dia, nos pergunta: -“Eiii compatriotas, a História é muda ou vocês continuam surdos?”
Fomos criados não para usufruir de forma egoísta da criação, mas para cultivá-la e termos um relacionamento recíproco de cuidado e amor com ela e com os nossos semelhantes. Uma teologia contemporânea da escuta deve traçar caminhos que se contextualizam a realidade presente, no espaço onde se faz e vive o saber Teológico, para que esse saber alcance e seja compreensivo e, - por meio do Espírito Santo- mude o Homem Integralmente na relação dele com Deus, dele com o próximo, dele com a natureza, dele com a cultura e economia vigente, dele com as coisas imanentes e transcendentes, dele com o Todo e do Todo com ele.
Vocabulário: Ortopraxia seria a prática correta de uma crença, já Ortopatia trás o sentido de sentimento correto. Etimologicamente, ortopraxia se originou a partir da junção dos termos órthos, que significa “reto”, e praxe, que quer dizer “prática”.
Graduado em História pela Faculdade Sumaré e bacharel em Teologia pela FLAM (Faculdade Latino Americana). Possui Extensão Universitária em História Judáica pela PUC-SP. Após atuar durante cinco anos como livreiro e mergulhar no universo dos livros cristãos, ingressou em 2019 como professor na Escola Pública do Estado de São Paulo. Atualmente é professor das disciplinas de História e Filosofia no colégio cristão Kairós e produtor de conteúdos terceirizados para plataformas de banco de questões modelo Enade, na área de tecnologia.