O mandato cultural
Por Marcelo Santos
Créditos da imagem: beate bachmann por PixabayO cuidado de nosso Deus com a criação do mundo e tudo o que nele há nos surpreende. Até hoje podemos assistir reportagens científicas apresentando a descoberta de um novo "ser" mesmo depois de bilhões de anos após a criação.
A criatividade e inteligência do nosso Senhor é um ponto crucial para essa diversidade. Cada elemento tem a sua importância para o funcionamento da "engrenagem" do mundo.
Todos os animais, árvores, vegetais e demais elementos que compõe o que hoje chamamos de planeta foram criados apenas mediante as palavras de Deus, porém a coroa da criação (homem) foi concebida a partir de um diálogo entre a Trindade (Deus Pai - Deus Filho - Deus Espírito Santo):
Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão". Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gênesis 1:26-27).
O homem foi criado pelas próprias mãos do seu criador e possui a sua imagem e semelhança.
Embora tudo o que Deus criou tenha sido considerado "muito bom", a tarefa de explorar e desenvolver os poderes e potenciais da Criação, a tarefa de construir uma civilização, Ele atribui aos portadores de sua imagem (COLSON & PEARCEY, 2000. p. 351).
Mas o texto não termina dessa forma. Após a criação o homem recebe uma ordem (Mandato Cultural) para dominar sobre tudo o que foi criado por Deus. Diante desse cenário podemos perceber a nossa responsabilidade em buscarmos adquirir a sabedoria para conseguir "dominar" sobre tudo o que foi criado.
Toda a nossa vida, tanto anterior à conversão como fora da religião, pertence a Deus e faz parte do seu chamado. Nós não devemos pensar que Deus só passou a se interessar por nós depois que nos convertemos, ou que agora ele só está interessado no cantinho religioso das nossas vidas (STOTT, 1998, p. 155).
No passado o homem era considerado sábio quando o mesmo concentrava o conhecimento de diversas áreas da ciência (homem generalista). Atualmente a sociedade aponta como sábio o homem que agregou o seu conhecimento em uma área específica da ciência (homem especialista).
Porém a palavra de Deus não atribui para o homem apenas uma área específica para que ele "dominasse". Temos o desafio de utilizar todo o conhecimento que o nosso Deus nos deu (ao nos criar a sua imagem e semelhança) e adquirir a maior quantidade possível de conhecimento.
Deus ordenou ao homem que cuidasse da criação e desfrutasse com o seu próximo. E a partir do mandato cultural, a política, o trabalho, a educação, as artes, o lazer, a tecnologia, a indústria e todas as outras áreas se desenvolveriam, pois é esse mandado que oferece a justificativa para o envolvimento do homem em todas as áreas (FERREIRA, 2007).
Se Deus é Soberano, então seu senhorio deve permanecer sobre toda a vida e não pode ser trancada dentro das paredes da igreja ou dos círculos cristãos. O mundo não cristão não foi entregue a Satanás ou à humanidade caída ou ao acaso. A soberania de Deus é grandiosa e domina também em reinos não batizados, portanto nem o trabalho de Cristo no mundo, nem o filho de Deus pode ser arrancado para fora da vida. Se o seu Deus trabalha no mundo, então você deve colocar a mão no arado para que lá também o nome do Senhor seja glorificado (BRATT, 1998, p. 166).
Vamos aceitar o nosso Mandato Cultural e aprender uma coisa nova a cada dia? O Deus que muitos de nós adoramos é religioso demais. Aparentemente, nós achamos que ele só se interessa por livros, edifícios e cerimônias religiosas. Mas não é bem assim. Ele se preocupa conosco, nosso lar, nossa família e amigos, nosso trabalho e lazer, nossa cidadania e comunidade. Assim a soberania de Deus estende-se a ambos os lados e a todas as áreas da nossa vida. Nós não devemos marginalizar Deus, ou tentar espreme-lo para fora da nossa vida não religiosa (STOTT, 1998, p. 156).
Referência:
COLSON, Charles & PEARCEY, Nancy. E Agora Como Viveremos? Rio de Janeiro: CPAD, 2000. 648 p.
STOTT, John. Ouça o Espírito Ouça o Mundo: como ser um cristão contemporâneo. 2 ed. São Paulo: ABU, 1998. 482 p.
FERREIRA, Franklin & MYATT Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 406.
BRATT, James D. Abraham Kuyper: a centennial reader. Grand Rapids: Eerdmans, 1998. 498 p.
Mestre em Educação pela Universidade Interamericana (2019). Especialista em Teologia e Missões pela Faculdade Latino-Americana (FLAM - 2023), pós-graduando em Terapia de Casais pela Faculdade Prisma e Bacharel em Teologia pelo Centro Batista de Educação, Serviço e Pesquisa (CEBESP - 2020). Possui Extensão Universitária em Igreja e Missão, Educação Cristã e Aconselhamento pela FLAM - Faculdade Latino Americana (2021). Colunista do Chão da Vida e professor universitário na área de tecnologia e teologia em diversas universidades.