A superação da religião
Por Marcelo Santos
A religiosidade pode ser tanto uma fonte de força para as pessoas como um refúgio para a fraqueza, sendo que nenhuma dessas duas possibilidades é boa ou ruim por si só. Como o ser humano tem capacidade tanto para o bem quanto para o mal, a religiosidade pode, por um lado, corroborar a dignidade pessoal e o senso de valor, promover o desenvolvimento da consciência ética e da responsabilidade pessoal e comunitária; por outro lado, a religiosidade pode diminuir a percepção pessoal de liberdade, gerar uma crença de que não seja tão necessário o cuidado pessoal, além de facilitar a evitação da ansiedade que geralmente acompanha o enfrentamento autêntico das possibilidades humanas (PINTO, 2009, p. 7).
No início da minha caminhada cristã, conheci o lado punitivo de Deus.
Aprendi que quando somos fiéis, somos abençoados, e quando somos infiéis, somos castigados (Deus nos amaldiçoa).
Com esse ensinamento, minha relação com o Eterno sempre foi de medo e, infelizmente, as minhas práticas religiosas estavam atreladas ao sucesso em todas as áreas de minha vida. Ou seja, servir ao próximo e à igreja era, praticamente, uma garantia de “benção” e “sucesso”, pois estava praticando as “obras” corretas.
A religião oferece uma estrutura sacrificial perfeita para essa compreensão equivocada, se olharmos, simplesmente, para a Lei e os ritos sacrificiais descritos no Velho Testamento.
“Deus está irado comigo pelo pecado que cometi. Para aplacar a ira de Deus, vou oferecer o sacrifício do serviço, o sacrifício das contribuições financeiras, o sacrifício da tolerância...” E por aí vai...
Com Cristo, essa prática já não faz mais sentido, pois o evangelho é a superação da religião. Em Filipenses 2:5-11, o apóstolo Paulo apresenta a forma como devemos aplicar os ensinamentos bíblicos e encontrar o equilíbrio para interpretar toda a Lei.
Veja este trecho bíblico para refletir sobre como devemos nos relacionar com a Lei e com a nossa devoção a Cristo:
5 Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus,
6 que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se;
7 mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.
8 E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!
9 Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome,
10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra,
11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.
(Filipenses 2:5-11)
A partir de Cristo, somos convidados a desenvolver o amor (ao nosso Eterno Deus e ao próximo), sentimos a motivação correta para aprimorar o nosso senso de importância (e desenvolver a mesma humildade de Cristo) e obediência.
Que você, caro leitor, assim como eu, consiga compreender que o verdadeiro evangelho é a superação da religião.
Supere o peso e as imposições religiosas para experimentar da “boa, perfeita e agradável” vontade de Deus.
Pinto, Ênio Brito. Espiritualidade e Religiosidade: Articulações. Revista de Estudos da Religião. 2009, pp. 68-83. Disponível em: https://www.pucsp.br/rever/rv4_2009/t_brito.pdf. Acesso em: 04 jun. 2021.
Mestre em Educação pela Universidade Interamericana (2019). Especialista em Teologia e Missões pela Faculdade Latino-Americana (FLAM - 2023), pós-graduando em Terapia de Casais pela Faculdade Prisma e Bacharel em Teologia pelo Centro Batista de Educação, Serviço e Pesquisa (CEBESP - 2020). Possui Extensão Universitária em Igreja e Missão, Educação Cristã e Aconselhamento pela FLAM - Faculdade Latino Americana (2021). Colunista do Chão da Vida e professor universitário na área de tecnologia e teologia em diversas universidades.