A espiritualidade da reconstrução

Por Marcelo Santos

A espiritualidade da reconstrução

“Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres.
Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto.
Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.
Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes”.

Salmos 126:3-6

O Salmo 126 é uma canção comunitária de confiança que emprega metáforas para proclamar Deus como aquele que traz alegria na tristeza, risos nas lágrimas e o bem no mal.

Os versículos iniciais do texto apresentam uma época maravilhosa e alegre “quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho”.

Segundo diversos estudiosos e teólogos, podemos relacionar esse relato com o retorno milagroso dos judeus que estavam exilados na Babilônia. Esse fato histórico aconteceu quando o rei da Pérsia (Ciro) derrotou a Babilônia e libertou os exilados para que eles pudessem retornar a Jerusalém.

Os exilados sonhavam com Jerusalém por muitos anos. Eles se lembravam de como era maravilhoso e de como haviam estado livres ali.

No tempo do exílio, frequentemente eles se recordavam da grandeza do templo de Salomão e de sua devoção e adoração ali naquele espaço físico. Eles sonhavam em voltar um dia - embora mal pudessem imaginar como isso seria possível.

Embora o retorno fosse motivo de celebração, a chegada introduziu um novo conjunto de dificuldades que o povo iria enfrentar:

  • Apenas uma parte do povo havia retornado – alguns morreram e outros permaneceram na Babilônia.
  • Na chegada eles encontraram Jerusalém em ruínas (completamente destruída).
  • Era necessário reconstruir a cidade do zero – nada era como antes (começando pelos muros para protegê-los de possíveis inimigos).

Os exilados que voltaram enfrentaram muitas dificuldades. Seriam necessários seus melhores esforços para tornar a terra produtiva novamente.

Por mais glorioso que seja o futuro, essa glória futura não faz com que a angústia presente desapareça. Diante do caos, tristeza, perda, desânimo e da tragédia, chorar não é um problema. Lamentar também não é um problema.

O Salmo 126 mostra que nossas lágrimas são um investimento: “aqueles que semeiam em lágrimas colherão com cantos de alegria”.

Só quem semeia com lágrimas pode colher com gritos de alegria. Só quem chora traz feixes para casa.

Aprender a “orar” nossas lágrimas é o processo de amadurecimento. Enquanto choramos em direção a Deus, ele pega nossas lágrimas e as planta em seu jardim de graça, misericórdia e amor.

Essa semente não cresce instantaneamente. Cultivar leva um tempo que infelizmente em alguns casos não queremos gastar. É preciso regar quando não queremos!

É preciso amadurecer e nesse processo existem lágrimas envolvidas. Mas podemos entregar essas lágrimas e dores na direção do nosso eterno Deus.

ELE pode transformar lugares secos em rios.

ELE pode transformar tristeza em alegria.

Querido leitor e leitora, que neste vale de lágrimas, possamos permitir que o nosso eterno e bom Deus nos console e nos auxilie nesse processo de reconstrução, pois “aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes”.

  • Marcelo Santos

    Mestre em Educação pela Universidade Interamericana (2019). Especialista em Teologia e Missões pela Faculdade Latino-Americana (FLAM - 2023), pós-graduando em Terapia de Casais pela Faculdade Prisma e Bacharel em Teologia pelo Centro Batista de Educação, Serviço e Pesquisa (CEBESP - 2020). Possui Extensão Universitária em Igreja e Missão, Educação Cristã e Aconselhamento pela FLAM - Faculdade Latino Americana (2021). Colunista do Chão da Vida e professor universitário na área de tecnologia e teologia em diversas universidades.