A espiritualidade da resposta

Por Marcelo Santos

A espiritualidade da resposta

“Ainda lembro
Que eu estava lendo
Só prá saber
O que você achou
Dos versos que eu fiz
E ainda espero
Resposta”
Trecho da Música “Resposta” (Nando Reis)

A música “Resposta”, composição de Nando Reis, é um verdadeiro clássico da MPB nacional. Sua construção surgiu após o término de um relacionamento amoroso do autor com Marisa Monte, pois ele aguardava ansiosamente a resposta dos versos que havia construído, pedindo perdão pelos erros cometidos... porém não obteve a “resposta” de sua amada.

Quer dizer… não obteve uma resposta formal, porque o “silêncio” também é uma resposta.

No chão da vida, constantemente me encontro na mesma situação que Nando Reis viveu na década de 90, onde aguardava uma resposta de suas indagações, mas infelizmente tal resposta não se apresentava de forma clara e objetiva. Essas perguntas “irrespondíveis” insistem em dominar os nossos pensamentos e precisamos lidar com a incerteza.

A “espiritualidade da resposta” nos ensina a exercer a nossa paciência e confiança no autor e consumador de nossa fé.

O sofrimento humano é variado: às vezes as causas da dor são óbvias, às vezes são questões que não encontraremos uma resposta. Um exemplo claro dessa busca por resposta a questões complexas e aparentemente injustas é relatado no Antigo Testamento, no livro de Jó.

Jó se viu em uma espécie de agonia que estava além de todas as proporções. As circunstâncias não apresentavam uma explicação plausível. Ele passou a maior parte do livro testando e rejeitando diferentes hipóteses “dos porquês” da tragédia a que ele foi submetido.

Jó sofreu de uma maneira peculiarmente dolorosa e confusa, e sua história aborda esse tipo de experiência.

Minha impressão é de que a cultura evangélica tem basicamente duas explicações para o sofrimento: o pecado cometido por nós mesmos ou a obra que Deus quer fazer em nós a fim de que cresçamos como indivíduos.

Entretanto, nenhuma dessas explicações é relevante para Jó. O livro se esforça em nos mostrar que não é por causa de qualquer falha na vida de Jó que vem sua aflição - muito pelo contrário.

Da mesma forma, não podemos explicar o sofrimento de Jó em termos de alguma imaturidade ou inadequação de sua fé. Em termos de caráter moral e a prática da fé, Jó era irrepreensível.

Parece que precisamos de uma terceira categoria de explicação. Às vezes, Deus permite a dor e a perda que nada têm a ver com o pecado em nossas vidas.

Quando Deus nos coloca em uma posição em que devemos manter nosso relacionamento apenas por amor a Ele - em que nada ganhamos além de Deus - começamos a recebê-lo mais plenamente do que antes. O grito de surpresa de Jó: “Agora meus olhos te vêem”, torna-se a nossa canção.

Jó termina o livro confessando com adoração que ganhou uma visão totalmente nova de Deus, uma visão tão grande que todo o seu conhecimento anterior sobre Ele é como uma informação irrelevante.

Este livro nos ensina que o sofrimento não é um sinal da ira de Deus, nem mesmo uma forma de melhorar nossa qualidade moral como cristãos. É uma via pela qual Deus se revela a nós da maneira mais profunda do que jamais poderia ter feito em nossa segurança e conforto.

Um sofrimento semelhante ao de Jó torna-se um contexto para amar, honrar e permanecer fiel a Deus pelo amor a Ele, independentemente de qualquer circunstância.

Mesmo não tendo a resposta para os nossos “versos” e indagações, devemos entregar nossa confiança ao criador da humanidade.

  • Marcelo Santos

    Mestre em Educação pela Universidade Interamericana (2019). Especialista em Teologia e Missões pela Faculdade Latino-Americana (FLAM - 2023), pós-graduando em Terapia de Casais pela Faculdade Prisma e Bacharel em Teologia pelo Centro Batista de Educação, Serviço e Pesquisa (CEBESP - 2020). Possui Extensão Universitária em Igreja e Missão, Educação Cristã e Aconselhamento pela FLAM - Faculdade Latino Americana (2021). Colunista do Chão da Vida e professor universitário na área de tecnologia e teologia em diversas universidades.