A espiritualidade da vida abundante

Por Marcelo Santos

A espiritualidade da vida abundante

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Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É só maldade então, deixar um Deus tão triste (...)

Trecho da Música “Índios” (Renato Russo)

O Evangelho da vida, proclamado no início quando o homem foi criado à imagem de Deus para um destino de vida plena e perfeita é contraposto pela dolorosa experiência da morte que entra no mundo e lança sua sombra pela falta de sentido sobre toda a existência do homem.

A morte veio ao mundo como resultado da inveja e do pecado. A morte entrou de forma violenta, através do assassinato de Abel por seu irmão Caim:

Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou.
Gênesis 4:8

Este primeiro assassinato é apresentado com eloquência singular numa página do Livro do Gênesis de significado universal: é uma página reescrita diariamente no livro da história humana (e contada nos noticiários policiais aos berros).

No relato do assassinato de Abel, a Escritura revela a presença da raiva e da inveja no homem, consequências do pecado original (que está presente desde o início da história humana). O homem se tornou o inimigo de seu semelhante. Todo assassinato é uma violação do parentesco "espiritual" que une a humanidade em uma grande família, na qual todos compartilham o mesmo bem fundamental: a igualdade e a dignidade pessoal.

Não são raras as vezes em que o parentesco "de carne e osso" também é violado, por exemplo, quando surgem ameaças à vida na relação entre pais, filhos e cônjuges. Na raiz de cada violência contra o próximo está uma concessão ao "pensamento" do maligno.

Como nos lembra João:

Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não sejamos como Caim, que pertencia ao Maligno e matou seu irmão (..)
1 João 3:11-12

O assassinato de Abel no início da história é, portanto, um triste testemunho de como o mal se espalha com incrível velocidade: a revolta do homem contra Deus no paraíso terrestre é seguida pelo combate mortal do homem contra o homem.

O convite de Moisés ressoa de forma clara nesse contexto caótico em que vivemos:

(...) agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam, e para que vocês amem o Senhor, o seu Deus, ouçam a sua voz e se apeguem firmemente a Ele. Pois o Senhor é a sua vida, e ele lhes dará muitos anos na terra que jurou dar aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó.

Deuteronômio 30:19-20

Este convite é muito apropriado para nós, que somos chamados todos os dias ao dever de escolher entre a vida em detrimento da "cultura da morte".

A escolha incondicional pela vida atinge seu pleno sentido quando brota e é alimentada pela fé em Jesus de Nazaré.

Para enfrentar o conflito entre a morte e a vida somos desafiados a olhar (e ser consolados) pelo Filho de Deus que habitou entre os homens para que todos e todas pudessem ter vida com abundância.

É uma questão de fé naquele que venceu a morte.

É uma questão de fé no sangue de Cristo.

É uma questão de consolo para aqueles que enfrentam a dor do luto e da perda em virtude da violência e maldade humana.

Minha oração é que a partir da luz e da força desta fé, consigamos enfrentar os desafios presente no mundo. Que possamos assumir a responsabilidade de anunciar, celebrar, viver e servir o Evangelho da vida.

  • Marcelo Santos

    Mestre em Educação pela Universidade Interamericana (2019). Especialista em Teologia e Missões pela Faculdade Latino-Americana (FLAM - 2023), pós-graduando em Terapia de Casais pela Faculdade Prisma e Bacharel em Teologia pelo Centro Batista de Educação, Serviço e Pesquisa (CEBESP - 2020). Possui Extensão Universitária em Igreja e Missão, Educação Cristã e Aconselhamento pela FLAM - Faculdade Latino Americana (2021). Colunista do Chão da Vida e professor universitário na área de tecnologia e teologia em diversas universidades.