A espiritualidade do autocuidado
Por Marcelo Santos
Embora saibamos que o autocuidado é importante, poucas pessoas falam sobre as consequências de não priorizar a saúde mental. Em nossa cultura, o estresse é considerado um subproduto normal da multitarefa e as pessoas são recompensadas por passar longas horas trabalhando.
O autocuidado começa com a consciência de nossas próprias necessidades e do quanto podemos entregar. Reconhecer e compreender as emoções que sentimos é importante para descobrir nossas reais necessidades.
Se deixarmos de cuidar de nós mesmos, como podemos ter alguma coisa para compartilhar e/ou entregar ao próximo?
Quando se trata de atletas profissionais, o estresse e a pressão para realizar um bom desempenho estão em um nível completamente diferente. A exemplo de Simone Biles, que desistiu dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a saúde mental precisa ser levada a sério.
É preciso coragem para não ter medo de estabelecer limites saudáveis a fim de se proteger e se curar de traumas, tanto conhecidos quanto desconhecidos, enquanto se está no palco do mundo.
A atitude de Simone Biles demonstra toda a sua humanidade, exibindo sua vulnerabilidade ao tomar a difícil decisão de priorizar seu bem-estar mental e físico ao invés de buscar mais troféus, medalhas, dinheiro, fama etc.
Quando nos dizem para ir além do que é saudável para nós, precisamos, como humanos, ser capazes de estabelecer um limite. Fazer essa mudança mental não apenas transformará a maneira como nos relacionamos e respondemos ao estresse, mas nos permitirá focar no que realmente importa.
O autocuidado não significa auto-obsessão ou autodepreciação, mas simplesmente, cuidar de si mesmo.
Muitas vezes ao longo dos Evangelhos, Jesus se afastou de todos para descansar ou orar sozinho (ou em um grupo menor). Veja 2 exemplos dessa atitude de Jesus:
“De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando” (Marcos 1:35).
“Os apóstolos reuniram-se a Jesus e lhe relataram tudo o que tinham feito e ensinado. Havia muita gente indo e vindo, a ponto de eles não terem tempo para comer. Jesus lhes disse: ‘Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco’. Assim, eles se afastaram num barco para um lugar deserto” (Marcos 6:30-32).
Os Evangelhos deixam claro que o tempo de oração silenciosa era uma prioridade para Jesus. Outra verdade que podemos observar nesses relatos bíblicos é que, frequentemente, Jesus de Nazaré se retirou ao deserto para orar.
Em outras palavras, as pessoas estavam aglomeradas ao redor, exigindo Seu tempo e energia, e Ele, figurativamente, disse NÃO.
Jesus poderia ter passado aquele tempo curando mais pessoas, libertando mais cativos ou ensinando a verdade para massas cada vez maiores. Mas ele não o fez. Ele tinha um limite. Ele reconheceu a importância do tempo a sós com Seu Pai e fez disso uma prioridade.
Isso se chama autocuidado.
Para viver como Jesus, precisamos buscar a solidão, ou nos afastar um pouco às vezes, mesmo quando há assuntos legítimos que exigem nossa atenção. Devemos ter a humildade de perceber o quanto precisamos que Ele nos preencha!
Minha oração é para que você pratique e desenvolva a espiritualidade do autocuidado no seu dia a dia.
Mestre em Educação pela Universidade Interamericana (2019). Especialista em Teologia e Missões pela Faculdade Latino-Americana (FLAM - 2023), pós-graduando em Terapia de Casais pela Faculdade Prisma e Bacharel em Teologia pelo Centro Batista de Educação, Serviço e Pesquisa (CEBESP - 2020). Possui Extensão Universitária em Igreja e Missão, Educação Cristã e Aconselhamento pela FLAM - Faculdade Latino Americana (2021). Colunista do Chão da Vida e professor universitário na área de tecnologia e teologia em diversas universidades.