Amor em Ação
Por Joel Marc
Amor em ação: Sendo a provisão de Deus na vida de alguém.
Em 2020, com o agravamento da pandemia, se tornou notória a desigualdade social no Brasil e, consequentemente, diferentes camadas da sociedade foram atingidas pelos efeitos da crise ocasionada pelo coronavírus. Algumas pessoas foram mais atingidas emocionalmente, outras fisicamente, algumas psicologicamente e ainda outras, socialmente. Nesses momentos, muitos de nós buscamos uma provisão de Deus, tal qual Israel no deserto, orando por intervenções divinas.
Na história da Bíblia, em muitas ocasiões, Deus é descrito como o “Deus da Provisão”, de modo que o povo hebreu tinha uma forma específica de referenciá-lo nesses momentos: Jová Jireh, do original Yhaweh-yir'eh que significa “Deus proverá” ou “o Senhor proverá”.
Um dos exemplos mais conhecidos é o de Abraão e Isaque no monte Moriá, onde o cordeiro é providenciado milagrosamente para substituir Isaque no sacrifício. Essa é uma passagem que serve de prelúdio ou prefiguração para o que haveria de acontecer no Novo Testamento, quando Jesus se oferece como sacrifício vivo em nosso lugar, redimindo a humanidade de uma vez por todas. Sim, Cristo é o cordeiro da provisão de Deus em favor da humanidade!
De ponta a ponta, de Gênesis a Apocalipse, do Pentateuco às cartas Paulinas, os relatos da bíblia estão cheios do amor de Deus para com a humanidade, revelados por meio de provisões. Diferente do que acreditam os deístas, nós cristãos cremos em um Deus que, além de se importar como a sua criação, interage também com ela, e não sendo indiferente às nossas dores, intervém com provisões em nosso favor.
Em 2020 eu fiz parte do grupo que foi atingido financeiramente pela pandemia, e pude ver a provisão de Deus em forma de pessoas. Meu contrato como professor do Estado de São Paulo não foi capaz de me sustentar em meio às crises que atingiram o país - me vi desamparado pelo Estado com meu salário literalmente zerado... Dias de insegurança, ansiedade e incertezas me abateram, mas na mesma fase, Deus, por meio de amigos mais chegados que irmãos, fez-me perceber que a provisão de Deus não acontece apenas quando o Mar Vermelho se abre ou quando chuva de fogo cai do céu. A provisão acontece também quando pessoas movidas em amor se permitem ser a corporificarão viva da Graça de Deus para nossas vidas.
Lembro-me como se fosse hoje quando irmãos e irmãs do corpo de Cristo, sabendo da situação em que me encontrava, generosamente se mobilizaram de forma anônima, num ato de amor em ação, e dividiram comigo seus recursos, abraçando-me financeiramente durante alguns meses enquanto as aulas não retornavam. Ali percebi nitidamente que milagres continuam acontecendo, precisamos apenas estar sensíveis para percebê-los. Muitas vezes a provisão de Deus não vem por meio de eventos extraordinários, mas de pequenas ações em comunidade que juntas se transformam em grandes mudanças.
Nesse ano percebi que Deus não é individualista em seus milagres, pelo contrário, Ele generosamente quer que sejamos participantes das provisões que irá realizar na vida de alguém: por meio do abraço que consola, da comida que sacia a fome dos famintos, do acolhimento que diz que está tudo bem, da conversa que muda o ânimo, das mãos que, estendidas, doam em amor.
Como diz a belíssima e profunda oração de Franscico de Assis:
“Senhor, Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!”
Seja a provisão de Deus na vida de alguém que ora por uma intervenção em meio à crise e desesperança, tal qual Ananias foi para Saulo (Atos 9:10-11), como o menino humilde com apenas 5 pães e 2 peixinhos se permitiu ser as mãos generosas que partilham o pão (João 6.9), como os 4 amigos foram para o acamado, descendo-o pelo telhado até Jesus (Marcos 2.3) ou como Pedro e João que, mesmo assumindo suas limitações, se permitiram ser agentes de cura na vida do coxo em frente à porta formosa. Naquele dia o coxo esperava apenas a provisão de uma moeda, mas recebeu algo muito além: salvação e cura.
Permita-se ser o amor de Deus corporificado em gestos de provisão mesmo em tempos de pandemias.
Que a generosidade, a fé e a esperança sejam mais contagiantes do que o vírus. Amém.
Graduado em História pela Faculdade Sumaré e bacharel em Teologia pela FLAM (Faculdade Latino Americana). Possui Extensão Universitária em História Judáica pela PUC-SP. Após atuar durante cinco anos como livreiro e mergulhar no universo dos livros cristãos, ingressou em 2019 como professor na Escola Pública do Estado de São Paulo. Atualmente é professor das disciplinas de História e Filosofia no colégio cristão Kairós e produtor de conteúdos terceirizados para plataformas de banco de questões modelo Enade, na área de tecnologia.