Café, São Paulo & Solitude

Por Joel Marc

Café, São Paulo & Solitude

São Paulo se desenvolveu e ganhou notoriedade nacional com o advento da economia cafeeira, nos trilhos que se erguiam e no famoso cafezinho, que nos dá aquele vigor a cada manhã e que ainda hoje funciona como uma terapia em meio àquele alvoroço todo da rotina de escritório. O cafezinho, que é famoso por nos manter “ligados” , “ativos” e em constante ação, por coincidência ou não, também teve papel importantíssimo em mobilizar e girar o motor propulsor da cidade que viria a ser conhecida como a “cidade que não para”.

Atualmente, aqui em São Paulo, você facilmente encontrará lojas que funcionam 24 horas por dia. A rotina noturna da cidade nos centros metropolitanos é tão movimentada quanto de dia – características que denotam São Paulo como o principal centro comercial do país.

O café em São Paulo está em todo lugar, como por exemplo, na sala dos professores que depois de algumas aulas cansativas reabastecem rapidinho a energia, “loucos” com aquele cheirinho de café que lhes dá mais um pouco de gás para as aulas que virão a seguir. O café está na vida do operário que, exausto, olha para o relógio (ponteiros não podem faltar em São Paulo)  esperando ansioso aqueles 15 minutinhos do café da tarde para liberar a dopamina no seu organismo e dizer a si mesmo: "Pronto, eu aguento mais trabalho!”. 

O café na famosa Avenida Paulista está de ponta a ponta, já tem até o frappuccino no Starbucks pra quem prefere a cafeína gelada. O elemento que ajudou  São Paulo a crescer economicamente como nunca antes no século XIX e nas primeiras décadas do século XX, hoje ajuda os paulistas a sobreviverem nesse ritmo frenético do coração econômico do Brasil. Mas o que nós paulistas precisamos não é de um "alívio" passageiro, o que nós urgentemente precisamos  é de cura para a alma!

A cafeína também faz uma boa analogia com o indivíduo paulistano, pois ela nos remete à ideia de que "preciso estar acordado e elétrico, dormir é perder tempo!". A cafeína funciona para nós quase como o óleo de um “robô alienado", pois no primeiro sinal de fadiga, de que estamos enferrujando e diminuindo o ritmo de trabalho,  “Bora tomar um cafezinho!”. Não quero com isso demonizar o café - é evidente que ele tem seus benefícios e eu, por exemplo, amo os momentos de conversa numa tarde livre com os amigos que ele pode intermediar. Mas a realidade tratada aqui é que, numa alienação da correria frenética de São Paulo, ele é uma boa referência para percebemos o quanto estamos dopados, inconscientes de quanto tempo faz que não ouvimos o canto dos pássaros ou contemplamos uma obra artística, pelo simples prazer de parar e observar. Inconscientes de que o silêncio é parte importante da música, como também é parte importante da vida.

E você, já se silenciou hoje? Já olhou pra dentro de si e dialogou com  sua própria companhia? Ou no primeiro sinal de solitude, abraçou uma tecnologia e sentou-se em frente a TV,  preenchendo os únicos, breves e momentâneos espaços do dia que poderiam ser as lacunas para possíveis deleites nos Vislumbres da Graça , vislumbres onde o eco do silêncio pode falar mais à nossa consciência do que os gritos ensurdecedores da cidade que não para.

Vá para o silêncio - para o quarto secreto do seu interior -, lá busque o Aba - que está no silêncio pronto para despertar a consciência da sua humanidade perdida.

Precisamos aprender a “parar”, se queremos de fato continuar caminhando
.

No silêncio da nossa inquietude, nós paulistas, poderemos suavemente, novamente  ouvir e ser transformados em novidade de vida pelas sábias palavras de Jesus geradas na eternidade:

“Vinde a mim, vós que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrarei descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” 


  • Joel Marc

    Graduado em História pela Faculdade Sumaré e bacharel em Teologia pela FLAM (Faculdade Latino Americana). Possui Extensão Universitária em História Judáica pela PUC-SP. Após atuar durante cinco anos como livreiro e mergulhar no universo dos livros cristãos, ingressou em 2019 como professor na Escola Pública do Estado de São Paulo. Atualmente é professor das disciplinas de História e Filosofia no colégio cristão Kairós e produtor de conteúdos terceirizados para plataformas de banco de questões modelo Enade, na área de tecnologia.