Do controle desconectado à Soberania de Deus
Por Joel Marc
Quando criança eu pedia tanto – mais tanto – para jogar videogame que chegava um momento que meu irmão mais velho me dava um segundo controle (detalhe um controle desconectado), totalmente iludido pensava eu estar fazendo todos aqueles incríveis movimentos com os personagens, quando na verdade eu vivenciava uma evidente demonstração da falsa sensação do “Eu estou no controle”.
O problema é que para além da criança iludida a vida também é permeada pela falsa sensação de controle, devido aos nossos inúmeros medos do futuro criamos mecanismos de proteção onde inconscientemente nos apegamos a eles e a essa falsa sensação de segurança. A sensação de ter tudo sobre controle às vezes está no valor acumulado na poupança, na empresa que vive um momento de crescimento, no convênio médico que me garante “total assistência”, no vigor da minha juventude, mas quando menos se espera vem à noite escura da alma, vem uma pandemia e desmascara todas as nossas falsas impressões.
Assim cai nosso castelo de areia, e como crianças emocionais, sentamos desamparados e choramos ao abrir os nossos olhos para perceber que o controle nunca esteve conectado, que vivíamos uma ilusão narcisista em imaginar que poderíamos prever e controlar o amanhã.
O amanhã só pertence a alguém, e esse alguém não é você, muito menos eu, esse alguém é Aquele sobre quem Tomás de Aquino escreveu uma obra imensa de 20 volumes, conhecida como Suma Teológica e concluí dizendo “Este é o supremo conhecimento a respeito de Deus, saber que não sabemos”. A este respeito também Peter Scazzero vai refletir em seu livro Espiritualidade Emocionalmente Saudável que “Deus é imanente (muito perto) e também transcendente (acima e distante de nós), é cognoscível, todavia é incognoscível. Deus está dentro de nós e ao nosso lado, todavia é inteiramente diferente de nós, se você compreende, não é Deus que você compreende”.
Da mesma forma que o Eterno não pode ser contido em nossa limitada compreensão – pois desse modo ele seria previsível – assim também nós não estamos no controle, pois o sinônimo de estar no controle é se tornar Deus – e Deus não somos!
O nosso nascimento em si mesmo já é um fato evidente de que não somos Deus de nós mesmos, visto que não escolhemos como nascer, onde e quando – só nascemos – e o teatro da vida já está em curso, a cortina vermelha já foi puxada há muito tempo, nós apenas adentramos uma das cenas de uma História que mesmo que o famoso Narciso insista o tempo todo em dizer que é sobre nós, a voz do Narrador e Grande Roteirista nos lembra entre uma era e outra: Não é sobre vocês, é sobre mim, é sobre Aquele que Permanece.
Mas crescemos e construímos a ideia antropocêntrica de que estamos no controle, e nesse momento passamos inevitavelmente por Desertos da existência que ensinam mais que os Oásis da vida, por noites silenciosas que falam mais que o barulho do dia, por aflições do cair em si que nos coloca de fato em pé, pela dor de ficar cara a cara com nossas limitações intrínsecas da vida. É aqui nesse ponto da nossa existência que reconhecemos que os avanços medicinais ou tecnológicos por mais que se esforcem não podem nos maquiar para sempre - cedo ou tarde - nossas fragilidades vêm à tona, e só então seremos consolados pelo tomar consciência de quem realmente está no controle - Aquele que é a Palavra, o logos, o verbo, aquele que é o que é.
As limitações humanas demonstram que o Deus quer fazer através de nós é muito maior e melhor do que o que podemos fazer com as nossas próprias forças. Por esse motivo - cedo ou tarde - teremos que passar pelo vale da sombra da morte do nosso orgulho a fim de compreender e interiorizar que nós definitivamente não estamos no controle, e que bom que não estamos.
Reconhecer isso é o primeiro grande passo para que Ele possa fazer em nós (e apesar de nós) infinitamente mais do que pedimos ou pensamos.
Os sofrimentos momentâneos estão produzindo em nós uma glória inimaginável.
Graduado em História pela Faculdade Sumaré e bacharel em Teologia pela FLAM (Faculdade Latino Americana). Possui Extensão Universitária em História Judáica pela PUC-SP. Após atuar durante cinco anos como livreiro e mergulhar no universo dos livros cristãos, ingressou em 2019 como professor na Escola Pública do Estado de São Paulo. Atualmente é professor das disciplinas de História e Filosofia no colégio cristão Kairós e produtor de conteúdos terceirizados para plataformas de banco de questões modelo Enade, na área de tecnologia.