Empoderamento, cuidado e dignidade

Por Marcelo Santos

Empoderamento, cuidado e dignidade

No ínicio de Novembro fomos surpreendidos pela morte precoce de Marília Mendonça, uma das cantoras mais populares e promissoras do Brasil. Marília Mendonça trouxe o termo “feminejo” para o cenário de um estilo musical ainda tão masculino.

Entre as letras de suas músicas sobre superação de relacionamentos abusivos e autoestima feminina, pensei no quanto as mulheres permanecem à margem de nossas comunidades, ainda que sejam maioria no mundo.

Presenciamos esse cenário de marginalização desde os primórdios, como em algumas narrativas bíblicas que apresentam mulheres sendo julgadas. Assim é o caso da mulher adúltera, descrito no evangelho de João:

“Ao amanhecer ele apareceu novamente no templo, onde todo o povo se reuniu ao seu redor, e ele se assentou para ensiná-lo.
Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos (...)”

João 8:2,3

Esta mulher foi pega em flagrante; isso significa que ela foi vista, mas nunca ouvida. Ela aguardou sua sentença entre homens, sem um julgamento justo, porque era mulher.

Quando os escribas e fariseus trouxeram a mulher apanhada em adultério a Jesus, eles a desumanizaram, transformando-a em objeto de debate e discussão.

O acusado é uma mulher e os outros personagens (Jesus e os religiosos) são todos homens. Há uma conexão na história dessa mulher e à forma de tratamento dado às mulheres, inclusive nos dias de hoje.

Os escribas e fariseus queriam testar Jesus para que Ele infringisse a Lei de Moisés que, neste caso, prescrevia que uma mulher apanhada em adultério deveria receber a pena de morte.

Jesus inverte a situação e muda a visão de mundo e da identificação com justiça. Ele confronta os acusadores do sexo masculino (escribas e fariseus) com sua cosmovisão redentora. Os homens enfrentam sua própria pecaminosidade e saem de cena sem dizer uma palavra.

Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando com os mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele.”
João 8:9

Jesus é a revelação da salvação de Deus e salva a mulher de uma morte violenta.

Jesus se afastou da comunidade religiosa onde as mulheres viviam violência, santificada pela religião e que fazia parte dos próprios costumes religiosos.

A justiça de Deus reconcilia o relacionamento entre mulheres e homens.

A maneira como Jesus fala à mulher como pessoa reflete sua humanidade e espiritualidade. Jesus capacita a mulher e sua voz não ouvida para que ela possa ser ouvida na história.

Jesus fala e a escuta. Ele a trata com empoderamento, cuidado e dignidade, como convém a um ser humano.

Que no chão da vida, possamos olhar para a mulher com a mesma sensibilidade que observamos na maneira de ser de Jesus de Nazaré.

Em tempo, deixamos registrada as nossas condolências para todos os fãs e familiares de Marilia Mendonça. Que nesse tempo tão difícil, possamos encontrar o conforto e paz que vem somente do espírito consolador do nosso Senhor.
  • Marcelo Santos

    Mestre em Educação pela Universidade Interamericana (2019). Especialista em Teologia e Missões pela Faculdade Latino-Americana (FLAM - 2023), pós-graduando em Terapia de Casais pela Faculdade Prisma e Bacharel em Teologia pelo Centro Batista de Educação, Serviço e Pesquisa (CEBESP - 2020). Possui Extensão Universitária em Igreja e Missão, Educação Cristã e Aconselhamento pela FLAM - Faculdade Latino Americana (2021). Colunista do Chão da Vida e professor universitário na área de tecnologia e teologia em diversas universidades.