A humildade de João Batista: o profeta incorrupto
Por Joel Marc
Em tempos em que muitos querem ser deuses de si mesmos, olhar para a vida e postura de João Batista nos ajuda a lembrar quem somos e também quem não somos. Certa feita, admirados da espiritualidade que vivia João no chão da vida próximo às margens do Rio Jordão, alguns lhe perguntavam: “És tu o Messias que haveria de vir? Por acaso você é o Elias aguardado? Você é o Cristo?” A todas essas perguntas o homem que preferiu a vida reveladora de humildade e submissão, responde enfaticamente: “Eu não sou o Cristo!” (João 1.19).
Uau! isso é revelador do caráter de quem sabe sua real identidade, que não se ilude com os aplausos, que mantém a face coberta de si mesmo para que somente a imagem de Deus seja revelada. Nossa geração de popstars gospels, de apóstolos televisionados, de gente que se diz “acima da média”, de mercenários da fé e de amantes de si mesmos, tem muito a aprender com João Batista - o homem que se declara apenas homem e não deus.
João Batista era o homem que, mesmo tendo nascido da classe sacerdotal, podendo, portanto desfrutar dos privilégios de viver uma vida dedicada ao sacerdócio em Jerusalém - que na época lhe asseguraria prestígio social, subsistência e vaidade sem muito esforço físico - prefere as terras áridas e secas do deserto do que a corrupção que acontecia no templo de Jerusalém.
Numa época em que o sacerdócio havia se corrompido estabelecendo acordos com Roma e profanando o sagrado, esses sacerdotes fizeram do templo um grande comércio, pois contratavam cambistas que vendiam objetos de grande valor e animais para os sacrifícios, ficando com a maior parte do lucros obtidos e dos tributos, impostos e dízimos arrecadados. Esse contexto religioso-comercial se tornou um meio de corrupção lucrativa que poderia ter facilmente cegado os olhos de João Batista (como certamente teria corrompido muitos de nós). Entretanto ele preferiu os solos humildes do chão da vida – da vida comum – para assim viver sua real identidade: “A voz do que clama no deserto”.
A voz de João é uma voz que confronta as injustiças e corrupções do seu tempo, e acima de tudo, é a voz que anuncia: "Arrependei-vos, pois é chegado o Reino de Deus”. João é aquele que ajuda a perceber que, se a corrupção acontece externamente, consequentemente há muito tempo o coração já está corrompido, a devoção perdida, a fé abandonada, e o amor pelo próximo esvaído para o egoísmo e a ambição.
Olhe para o homem do deserto, ele tem algo a nos dizer! Talvez ele fale sobre si? Não e não! tudo o que ele diz é sobre Aquele que há de vir, que é tão digno de honra e glória, que o próprio João se declara indigno de desamarrar as correias das suas sandálias (João 1.27).
Muitas vezes somos tentados a assumir a postura de Salvadores de nós mesmos. Nossa geração da selfie nos ensinou a manter o “eu” sempre no centro. Hoje todos nós temos uma página na internet para ter a sensação inconsciente de fama. O narciso mora em todos nós, e em nós busca ídolos de si mesmo. Olhar para João Batista é olhar para quem de fato somos - vindos do pó-, como gostava de citar C.S. Lewis, “Filhos de Adão”. Não somos o Messias! Não podemos salvar a nós mesmos, pelo contrário nossos melhores atos de justiça são como trapos imundos diante de Deus (Isaías 64.06)
A menos que Deus venha em nossa direção, nós, de modo algum conseguiremos por meio de nossos próprios esforços chegar até Ele. Poderia o morto ressuscitar a si mesmo? Poderia o pecador autoproclamar-se perdoado? Por gerações e a cada novo Império que surgia na história da humanidade, uma coisa ficava cada vez mais evidente: não importa o quanto a sociedade aparentemente evolua, não importa o quanto os homens e mulheres criem formas de reter o envelhecimento, a morte sempre chega para nos lembrar que a Salvação da humanidade não está em si mesma, mas no Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
É difícil encarnar a expressão “que Ele cresça e eu diminua” no estilo de vida de autopromoção que adotamos na sociedade contemporânea (João 3.30). A verdade é que sempre precisamos ser lembrados da nossa pequenez pelo Espírito da Verdade. Os “espinhos na carne” cumprem a função de trazer à memória nossa condição de “filhos de Adão”, e assim a Graça (que nos basta) se aperfeiçoa em nossas fraquezas quando reconhecemos que “não somos o Cristo”.
João Batista, hoje li sobre ti, e me constrangi, pois o “eu” que habita em mim precisa aprender muito sobre humildade para ser mais parecido com você. Afinal, novamente o Messias virá, e os sinais anunciam a sua volta. Seremos nós os “Joões Batistas” da modernidade? Diremos não à corrupção religiosa, e escolheremos os desertos da humildade, em missão no chão da vida?
Pense sobre isso!
Afinal, o Messias virá, e não sou eu.
Graduado em História pela Faculdade Sumaré e bacharel em Teologia pela FLAM (Faculdade Latino Americana). Possui Extensão Universitária em História Judáica pela PUC-SP. Após atuar durante cinco anos como livreiro e mergulhar no universo dos livros cristãos, ingressou em 2019 como professor na Escola Pública do Estado de São Paulo. Atualmente é professor das disciplinas de História e Filosofia no colégio cristão Kairós e produtor de conteúdos terceirizados para plataformas de banco de questões modelo Enade, na área de tecnologia.